Qual propósito?
Adital -
Há uma profunda desconfiança de ponderáveis segmentos da opinião democrática brasileira sobre os reais propósitos dos que bateram à porta do STM (Superior Tribunal Militar) para terem acesso ao processo que a ditadura militar moveu contra Dilma Rousseff, quando ela era jovem militante de uma organização política que utilizou a luta armada para enfrentar os golpistas de 1964. Se o interesse for saber se ela participou da resistência, isso ela não nega e até tem orgulho de tê-lo feito. Se, porém, a intenção for dar legitimidade às versões e aos conceitos dos torturadores (Dilma foi torturada) sobre as ações revolucionárias, julgando-as a partir da ótica do regime, aí haverá repúdio por parte da consciência democrática nacional contra a manobra - garantem lideranças políticas e sociais. O direito de resistência (inclusive armada) a um regime ilegítimo, imposto pelas armas, como o da ditadura, é aceito em qualquer tribunal internacional.
RESISTÊNCIA
A luta armada contra um governo tirânico foi justificada até por Santo Tomás de Aquino. Se o governo não é escolhido pelo povo, mas imposto pela força, por uma facção ou segmento da sociedade, não tem legitimidade. Os que usam do direito da resistência (inclusive sublevação armada) contra tal governo praticam um ato legítimo. Foi o que aconteceu no Brasil, durante a ditadura. A crítica que se faz à resistência armada brasileira é de ordem política, não jurídica ou moral: foi uma tática equivocada porque não resultava de uma articulação com os demais setores esmagados da sociedade, mas da ação vanguardista de grupos de militantes, que terminaram isolados da sociedade, tanto por força da repressão descomunal, como pela censura, que impedia a comunicação com a população, dentre outras causas. Nelson Mandela (foto) e seu movimento revolucionário, por exemplo, também foram chamados de "bandidos" e de "terroristas" pelo governo e pela mídia, mas venceram porque sua luta estava interligada com outras frentes de resistência da sociedade. Não se isolaram.
FASCISTIZAÇÃO
A fascistização chega ao Brasil, como registram inúmeros episódios de violência gratuita contra moradores de rua, flanelinhas e gays, registrados em várias partes do território nacional, inclusive em Fortaleza. A simplificação dos problemas sociais por uma visão preconceituosa, que se infiltra cada vez mais na classe média, é um alerta sobre o que pode nos aguardar no futuro próximo, se as mentes esclarecidas não reagirem, travando uma discussão política de profundidade no País
FIASCO DOS EUA
A posição do deputado Peter King (cotado para ser o líder dos republicanos na Câmara dos Representantes, nos EUA) contra o julgamento, por tribunais civis, dos prisioneiros de Guantánamo, diz bem da natureza do partido que chega ao poder no parlamento. Ele não se conforma que venham a publico os relatos das torturas praticadas contra os prisioneiros, preferindo que fiquem como segredo de Estado. Como se sabe, os EUA praticaram uma aberração contra seus próprios princípios constitucionais ao manterem os acusados de terrorismo à margem de qualquer regime jurídico. Só se viu isso no fascismo. Barack Obama não conseguiu reverter de todo a aberração.
REABILITAÇÃO
Tudo indica que o café da manhã de Lula com José Dirceu (foto), além de ter sido um gesto de coerência e grandeza do presidente é um sinal inequívoco da reabilitação em marcha do político que ele considera o mais injustiçado do País. Lula prometeu que vai ajudar a "desmontar a farsa do mensalão", quando deixar o governo. Sorte teria o País se tivesse mais quadros políticos do estofo ético de José Dirceu (sem prejuízo à crítica de algumas de suas idéias) - dizem seus admiradores, lembrando que ele arriscou a vida por seus ideais, enquanto muitos dos atuais "democratas" militantes, passaram a ditadura ganhando dinheiro e sem arriscar um fio de cabelo.
[opiniao@opovo.com.br]
* Jornalista, analista político
Nenhum comentário:
Postar um comentário
QUANDO É PARA SOMAR, SEJA BEM VINDO.